"O
aspecto saudável e natural e a personalidade da sueca Ingrid Bergman (1915-82)
tornaram-na uma estrela popular em Hollywood nos anos 40 em filmes como Por Quem os Sinos Dobram (1943) e Meia Luz (1944), que lhe valeu o Óscar
de Melhor Atriz. Outros papéis nos anos 40 incluem Paula Alquist em A Casa Encantada (1945) de Hitchcock.
Bergman, que fez de freira em Os Sinos de
Santa Maria (1945) e Joana d’Arc
(1948), abalou Hollywood em 1949 quando deixou a família pelo realizador
italiano Roberto Rossellini. Apesar de isso ter sido anos antes de fazer outro
filme americano, com Anastasia (1956)
ganhou outro Óscar – o que pode ter assinalado o “perdão” de Hollywood" (Bergan 2008, 423).
Ingrid
Bergman, beleza sueca, serenidade mundial. Não há mulher no cinema que transmita maior
serenidade que Ingrid. Não é uma beleza perfeita e completamente convencional.
O rosto é demasiado largo e o nariz grande. Mas a serenidade e a luz do rosto
estão sempre lá para compensar e, até superar, a fragilidade da beleza. Não há
rosto, em preto e branco, mais luminoso que o de Ingrid. Em “Casablanca”, mais
especificamente na cena em que se despede de Bogart antes de partir de Marrocos
com o seu marido, o seu rosto é luz, não meia-luz.
O
sotaque, o olhar claro e sonhador dão-lhe um ar exótico.
Cansada
de papéis de rapariga boa, a sueca conseguiu o papel sexy em “Dr. Jekyll and
Mr. Hyde”. Esteve muito bem! Nunca pensei que Ingrid pudesse ser sexy, mas ela
provou o contrário. Apesar de tudo, os seus papéis de mulher virginal são os
meus favoritos, como é o caso em "Notorious" e "Gaslight". Nestes filmes, assim como em "Dr. Jekyll and Mr. Hyde", Ingrid interpreta mulheres desamparadas e sedentas de amor. O estilo vitoriano em "Gaslight", que já havia adoptado em “Dr. Jekyll
and Mr. Hyde”, fica-lhe lindamente. Reforça o seu papel de vítima. O
espartilho, o cabelo muito arranjado é opressivo, sendo que a opressão é
sentida por ela ao ser alvo da crueldade de Charles Boyer, em "Gaslight", e de
Spencer Tracy em “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”.
O seu
sofrimento causado por um marido é também refletido em "Notorious", sendo que o
maravilhoso Claude Rains (Louis Renault em “Casablanca”) é o seu
esposo neste filme de suspense.
A
seguir a Grace Kelly, Ingrid é, provavelmente, a maior musa loira de Hitchcock. Fez
três filmes com o mestre do suspense, embora "Splellbound" seja aborrecido.
“Casablanca”
é o seu filme mais conhecido. E o papel de Ilsa na obra da Warner Brothers é o
seu papel mais famoso.
Ingrid
é uma das maiores atrizes de todos os tempos. Eu não sei se ela seria capaz de interpretar mulheres
fortes e destemidas. Mas quem sabe se a sueca não seria capaz. Afinal, Ingrid foi
uma mulher forte, destemida. Renunciou a uma carreira em Hollywood para ceder
ao seu amor por Roberto Rossellini. Foi mal visto, mas o perdão aconteceu
quando Ingrid recebeu o óscar pelo seu papel em Anastasia. Quem é que não
perdoa a Ingrid? É difícil não perdoar tal beleza cheia de magia exótica e
etérea.
Ingrid
é a atriz que disse a frase mais famosa do cinema, segundo a AFI: “Play it,
Sam”. Talvez se fosse referida por outra estrela, a fama da frase não fosse tão
grande. As coisas que Ingrid diz têm magia. Ingrid é misteriosa como Garbo, mas
não é fria. É de aspecto frágil, vulnerável. É dona de um rosto que a tela quer
beijar. É atriz, estrela, mistério e beleza. É encantamento que seduz mesmo à
meia-luz.
Citação retirada do livro "Cinema" de Ronald Bergn, de 2008 (o original é de 2006) e editado em Portugal pela Civilização
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